segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Camila Hammes e José Hüntemann

 Florianópolis antes da conclusão da ponte Hercílio Luz - Banco de Imagens Casa da Memória

O local onde estão situados a Rodoviária de Florianópolis, o Terminal de Integração do Centro (TICEN) e o palco do carnaval da cidade, a passarela Nego Quirido, tinha um cenário diferente no passado. Não existia nada além do mar onde era possível se banhar, onde aconteciam competições de remo, a prática da pesca, e o recebimento de produtos por meios de transporte marítimo. A água contornava toda a região, ao lado do Mercado Público e da Praça da Alfândega.
A partir de 1972, no governo de Colombo Salles, deu-se início ao aterro de 600.000m² que afastaria o mar em aproximadamente 500 metros desses pontos. A necessidade de expansão da área para solucionar os problemas de tráfego que estavam começando a surgir na época, levou a essa intervenção. Parte do mar foi invadida para viabilizar a construção da segunda ponte de ligação entre a ilha e o continente. A medida foi tomada também, pois a primeira ponte, a Hercílio Luz, construída em 1926, estava preocupando a população após o acidente com a Silver Bridge, em Ohio – EUA. A ponte americana era considerada irmã gêmea da catarinense e caiu por uma falha na estrutura.

Além da infraestrutura para o trânsito, o aterro tinha como objetivo a criação de espaço exclusivo para recreação e lazer. Burle Marx criou o desenho do parque que não foi bem sucedido por desconsiderar a ligação histórica da cidade com o mar. Hoje as palmeiras no centro, ao lado do camelódromo, são os vestígios da proposta do paisagista brasileiro, escondida pelas novas construções.

Praça projetada por Burle Marx - Banco de Imagens Casa da Memória

Banco de Imagens Casa da Memória

Não só a baía sul foi modificada para acompanhar o desenvolvimento urbano. Antes de sua realização, a baía norte, onde se situa a Avenida Beira Mar Norte, foi aterrada na década de 60. No local existia a Praia de Fora, um estaleiro e um forte próximos à atual construção do Hotel Majestic. Em 1980 o aterro foi ampliado para a construção de mais faixas de circulação, de uma ciclovia e um calçadão.

Aterro na Beira-Mar Norte - Banco de Imagens Casa da Memória

Beira-Mar Norte atualmente - Felipe Ghisi

Em 1972 foi idealizado o aterro da Via Expressa Sul, que só foi projetado em 1992 e teve as obras iniciadas em 1995. Os trabalhos foram interrompidos em 1997 por falta de recursos financeiros e reiniciados em 1999. A área total de acrescido de marinha foi de 1.298.000 m², desde a saída dos túneis do saco dos limões até as proximidades da Foz do Rio Tavares.

Banco de Imagens Casa da Memória

Aterro do Saco dos Limões visto do alto - Banco de Imagens Casa da Memória

Os primeiros aterros realizados na ilha não seguiam um planejamento. No início da construção da ponte Hercílio Luz, em 1922, parte da superfície onde ficaria a cabeceira foi terraplanada e o material retirado, solo de um antigo cemitério, foi depositado na Prainha, local onde hoje estão edifícios dos poderes públicos.

Início da construção da Ponte Hercílio Luz e o cemitério que foi terraplanado - Banco de Imagens Casa da Memória

Como são feitos os aterros
Construção do aterro da Baía Sul (1972) - Banco de Imagens Casa da Memória
Existem duas formas de avançar sobre o mar. A primeira é chamada de mecânica, quando a terra é retirada de determinado local e depositada em outro, onde será aterrado. A segunda é de forma hidráulica,  e utiliza dragas que retiram a areia do fundo do mar e enviam para a superfície.


O vídeo abaixo mostra um exemplo de aterro hidráulico realizado na Beira-Mar continental.




Opinião de quem estava lá


O  engenheiro aposentado também participou da restauração da Ponte Hercílio Luz - José Hüntemann
O Engenheiro Civil aposentado do DEINFRA da Capital, Hubert Beck Junior, que trabalhou na obra dos aterros, definidos por ele como "acrescidos de marinha", deu seu relato sobre aspectos que envolvem a ocupação do mar em Florianópolis.


A importância do avanço e a desconstrução da ideia de prejuízos para a cidade
Acrescimo marinha by José Antônio Hüntemann



A importância dos acrescidos para a mobilidade urbana e a compensação dos impactos ambientais
Compensação dos problemas ambientais by José Antônio Hüntemann




Entrevista com moradores da época dos primeiros aterros


Uma manhã no centro de Florianópolis foi o necessário para conseguirmos encontrar quatro aposentados que presenciaram a mudança na cidade. Seus depoimentos são semelhantes no que diz respeito às práticas realizadas no mar que, naquela época, tinha influência direta no ritmo de vida do centro da cidade.


Governo planeja mais aterros

No mês passado o governo do Estado anunciou o projeto para a construção da quarta ponte da capital, que pretende resolver o problema do tráfego entra a ilha e o continente e criar nova ligação com a BR-101. Para a realização da obra, será necessário aterrar grande parte da beira-mar continental. No local, além das vias de tráfego, pretende-se construir parques e demais áreas de lazer. A previsão de término da obra é para o ano de 2016. Confira o vídeo do projeto aqui. 

Recentemente foi construída a Via de Contorno Norte Continente: o aterro no Estreito visava facilitar o acesso da ilha à BR-101 com uma via expressa de alta velocidade. Entretanto a obra não seguiu o projeto inicial, que previa cerca de 500 metros de área aterrada. Foram cobertos pouco mais de 150 metros, e alguns pontos estão inacabados. Para viabilizar a construção da quarta ponte, será necessário concluir a obra e aumentar a área do aterro.